Entrevista com Julieta Jerusalinsky
a infância de nossos tempos
DOI:
https://doi.org/10.59927/sig.v14i2.197Palavras-chave:
Infância contemporânea, Pandemia, DigitalidadeResumo
A entrevista com Julieta Jerusalinsky situa a infância contemporânea a partir da clínica psicanalítica, considerando que, por estarem menos estruturadas, as crianças estão mais expostas ao sintoma social de sua época, revelando assim os rumos que vão sendo assumidos pela cultura. A infância é atravessada pelo desejo de “ser grande”, sobrepondo a ideia de crescer à de realizar ideais, ao mesmo tempo em que, inconscientemente, a transmissão entre gerações é atravessada pela expectativa de que a geração seguinte possa triunfar onde a anterior fracassou. Por isso, as crianças estão tão atentas ao futuro. Mas é preciso interrogar como se produz a relação com o futuro quando tal esperança convive com a ameaça de um projeto civilizatório que propõe um consumo desenfreado com consequências de devastação ao meio ambiente, crises climáticas causadas por negacionismos políticos e injustiças sociais que recrudescem as intolerâncias com a supressão do convívio e respeito à alteridade. As crianças estão atentas a essas questões. A pandemia de Covid-19 não só privou bebês, crianças e adolescentes de experiências estruturantes, mas também catalisou as “intoxicações eletrônicas”, impondo uma sobredeterminação algorítmica que preenche com respostas prontas as brechas temporais e espaciais desde as quais poderiam se produzir criações inventivas. A virtualidade se apresenta como um quarto registro que tem feito obstáculo aos sintomas de estrutura em seu enlaçamento dos registros Real, Simbólico e Imaginário. Como saída ética e clínica, propõe-se sustentar o brincar, as experiências compartilhadas no convívio e a conversa como modos de elaboração e da sustentação dos laços para que o sentido do viver não seja aniquilado pelo individualismo, pela competitividade e pelo imediatismo impostos por respostas prontas que suprimem as nominações que podem ser produzidas pela subversão do sujeito do desejo.
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