Autismo ou psicose

necessária distinção desde a infância

Autores

DOI:

https://doi.org/10.59927/sig.v14i2.192

Palavras-chave:

Autismo, Psicose infantil, Psicanálise, Psiquiatria

Resumo

Este artigo discute a distinção entre autismo e psicose na infância a partir de duas perspectivas: a psiquiátrica, com ênfase na evolução nosográfica dos manuais DSM e CID, e a psicanalítica, destacando o estatuto estrutural do autismo e seus desdobramentos clínicos. Na psiquiatria, reconstrói-se o percurso que vai da vinculação histórica do autismo às psicoses infantis (DSM-I/II; CID-6 a CID-9) à separação atual como transtorno do neurodesenvolvimento (DSM-5; CID-11). Na psicanálise, argumenta-se que autismo e psicose não formam um contínuo, mas estruturas distintas, com diferenças quanto à relação entre linguagem e corpo, presença de alucinações, temporalidade de aparecimento e vontade de imutabilidade. Conclui-se que a diferença entre esses dois diagnósticos — autismo e psicose — é condição para a direção do tratamento e para a articulação ética entre clínica, pesquisa e formação.

Biografia do Autor

Renata Wirthmann Gonçalves Ferreira

Psicanalista, escritora e professora do curso de Psicologia da Universidade Federal de Catalão (UFCAT). Possui mestrado e doutorado em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília (UnB), pós-doutorado em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e graduação em Psicologia pela PUC-GO.

Rosana Fantini

Psicanalista e psicóloga com pós-graduação em Psicanálise com Crianças e Adolescentes pelo ESPE. É formada em Direito. Foi juíza do Trabalho de 1996 a 2018.

Luciana Rodrigues Mossolin

Discente do curso de Psicologia da UFCAT. Também possui graduação em Ciências Biológicas e em Pedagogia, além de ser especialista em Arteterapia.

Francisco de Assis Xavier Neto

Psicanalista e psicólogo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com especialização em Saúde Mental pelo Centro Integrado de Tecnologia e Pesquisa (CINTEP) e especialização em Psicanálise e Educação: A Prática da Inclusão nos Autismos pela Universidade Candido Mendes (UCAM). É coordenador do Grupo de Estudos Autismo, Psicanálise e Musicoterapia.

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Publicado

03-10-2025

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Em pauta