Autismo ou psicose
necessária distinção desde a infância
DOI:
https://doi.org/10.59927/sig.v14i2.192Palavras-chave:
Autismo, Psicose infantil, Psicanálise, PsiquiatriaResumo
Este artigo discute a distinção entre autismo e psicose na infância a partir de duas perspectivas: a psiquiátrica, com ênfase na evolução nosográfica dos manuais DSM e CID, e a psicanalítica, destacando o estatuto estrutural do autismo e seus desdobramentos clínicos. Na psiquiatria, reconstrói-se o percurso que vai da vinculação histórica do autismo às psicoses infantis (DSM-I/II; CID-6 a CID-9) à separação atual como transtorno do neurodesenvolvimento (DSM-5; CID-11). Na psicanálise, argumenta-se que autismo e psicose não formam um contínuo, mas estruturas distintas, com diferenças quanto à relação entre linguagem e corpo, presença de alucinações, temporalidade de aparecimento e vontade de imutabilidade. Conclui-se que a diferença entre esses dois diagnósticos — autismo e psicose — é condição para a direção do tratamento e para a articulação ética entre clínica, pesquisa e formação.
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