O que se abriga quando abrigamos crianças?
Um relato de experiência sobre o trabalho em tempos de enchentes
DOI:
https://doi.org/10.59927/sig.v13i2.112Palavras-chave:
Enchentes, Trauma, Crianças e adolescentes, Brincar, PsicanáliseResumo
Por meio do artigo, pretende-se compartilhar recortes da experiência de acolhimento realizada por um grupo de psicólogas junto a crianças e adolescentes em um abrigo criado em Porto Alegre durante as enchentes que assolaram o estado do Rio Grande do Sul em maio de 2024. Ao reconhecerem-se os efeitos potencialmente traumáticos das vivências que crianças, adolescentes e adultos enfrentaram perante a catástrofe climática, articulou-se um espaço de livre brincar. A partir da necessidade de abertura de espaços de elaboração e de simbolização do vivido pela via do brincar, bem como da construção de narrativas lúdicas e ficcionais que permitissem dar contorno ao sofrimento e à dor, optou-se pela construção de uma sala específica para o livre brincar, organizada a partir das doações de brinquedos, jogos, livros e materiais gráficos. Em meio ao trabalho, o grupo se deparou com diferentes repercussões psíquicas frente aos acontecimentos, assim como com o que foi descortinado pelas enchentes: o descaso e a exclusão social da população abrigada. A partir dos relatos e das brincadeiras, adentrou-se no universo daqueles indivíduos a fim de acompanhá-los no processo de elaboração não só daquilo que estava sendo vivido naquele dado momento, mas também de um histórico de privação de direitos que precedia esse acontecimento. Assim, diante da situação potencialmente traumática e do desamparo, amplificados pelas perdas de referências materiais e simbólicas, buscou-se estabelecer espaços protegidos, onde crianças, adolescentes e seus familiares pudessem encontrar amparo, bem como reencontrar e construir recursos que lhes permitissem enfrentar e atravessar os inúmeros efeitos e desafios apresentados durante o período crítico das enchentes.
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