O cabelo para mulheres negras de pele clara

entre o trauma do racismo e a reparação da negritude

Autores

  • Carolina da Silva Pereira CEP de PA

DOI:

https://doi.org/10.59927/sig.v13i2.119

Palavras-chave:

Palavras-chave: cabelo. racismo cotidiano. trauma colonial. negra de pele clara. identidade racial.

Resumo

Este trabalho busca contribuir com os estudos acerca das relações étnico-raciais em articulação ao campo psicanalítico no contexto brasileiro. Este artigo parte de uma pesquisa de dissertação em que se utilizou entrevistas com o intuito de compreender como se dá o processo de constituição da identidade e do pertencimento racial desses sujeitos.  O objetivo aqui é analisar os efeitos subjetivos do racismo enquanto trauma colonial com foco nos sentidos em torno dos cabelos de mulheres negras de pele clara, bem como apontar para possíveis caminhos de reparação, aproximações com a negritude e constituição de uma identidade negra valorizada para mulheres negras de pele clara. Tornou-se possível afirmar a importância dos sentidos acerca do corpo com destaque ao cabelo no tocante às mulheres, a partir dos quais emergem cenas de racismo cotidiano enquanto estratégias para manter negros/as em posição racial estrutural de inferioridade, formando identidade alienadas aos preceitos da branquitude, fenômeno que cria barreiras à constituição de uma identidade negra positiva. Por outro lado, é também através da discursidade acerca do corpo negro, esta ligada à negritude e suas dimensões coletivas, que se torna possível a constituição de uma identidade negra valorizada.

Biografia do Autor

Carolina da Silva Pereira, CEP de PA

Psicóloga clínica e pesquisadora. Doutoranda em Psicologia Social pela UFRGS. Psicanalista em formação pelo CEP de PA. Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (2014). Especialista em Psicologia Educacional. Especialista em Saúde Pública pela ESP/RS. Mestre em Psicologia Social pela UFSC na área de Relações Étnico-Raciais. Docente e orientadora na Especialização em Saúde Pública da ESP/RS. Membro do Grupo de Pesquisa “Egbé: Negritude, Clínica e Políticas do Comum” (UFRGS). Membro da Comissão de Relações Étnico-Raciais do CRP/RS. Associada à Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negro/as (ABPN). Experiência como professora universitária e como analista de políticas públicas do governo/RS.

Referências

BOURDIEU, P. A miséria do mundo. Petrópolis: Vozes, 1999.

COLLINS, P. H. Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. São Paulo: Boitempo editorial, 2019.

COSTA, A.; POLI, M. C. Alguns fundamentos da entrevista na pesquisa em psicanálise. Pulsional Revista de Psicanálise, v. 19, n. 188, p. 14-21, dez. 2006.

DICIONÁRIO MICHAELIS. Uol, Editora Melhoramentos, 2022. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/. Acesso em: 20 set. 2024.

FANON, F. Pele Negra, Máscaras Brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

GOMES, N. L. Cultura negra e educação. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v.23, p. 75-85, 2003.

GOMES, N. L. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolos da identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2020.

GONÇALVES FILHO, J. M. A dominação. In: GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO; IMPRENSA OFICIAL; INSTITUTO AMMA PSIQUÊ E NEGRITUDE (orgs.). Os efeitospsicossociais do racismo. São Paulo: Instituto AMA Psiquê e Negritude; Imprensa Oficial, 2008, p. 57-71.

IRIBARRY, I. N. O que é pesquisa psicanalítica? Agora: Estudos em teoria psicanalítica, v.6, p. 115-138, 2003.

KILOMBA, G. Memórias da plantação. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

MALTA, R. B.; OLIVEIRA, L. T. B de. Enegrecendo as redes: o ativismo de mulheres negras no espaço virtual. Revista Gênero, Niterói, v. 16, n. 2, p. 55-69, 2016.

MARTINS, L. M. Performances do tempo espiralar, poéticas do corpo-tela. Rio de Janeiro: Cobogó, 2021.

NOGUEIRA, I. B. Significações do Corpo Negro. 1998. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.

OHNMACHT, T. D. M. Do laço social ao corpoema: enlaces entre negritude e psicanálise. 2019. Dissertação (Mestrado em Psicanálise: Clínica e Cultura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2019.

REIS, E. A. Mulato: negro não negro e/ou branco não branco. São Paulo: Altana, 2002.

RIVERA, T. Por uma psicanálise a favor da identidade. Cult, São Paulo, 24 set. 2020. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/por-uma-psicanalise-favor-da-identidade/. Acesso em: 20 set. 2024.

ROSA, M. D. A Clínica Psicanalítica em Face da Dimensão Sociopolítica do Sofrimento. São Paulo: Editora Escuta, 2016.

ROSA, M. D. A pesquisa psicanalítica dos fenômenos sociais e políticos: metodologia e fundamentação teórica. Revista Subjetividades, Fortaleza, v. 4, n. 2, p. 329-348, set. 2004.

ROSA, M. D.; BRAGA, A. P. M. Articulações entre Psicanálise e Negritude: desamparo discursivo, constituição subjetiva e traços identificatórios. Revista da ABPN, v. 10, n. 24, p. 89-107, 2018.

SANTOS, N. S. Tornar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1983.

SCHUCMAN, L. V. Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana. 2012. Tese (Doutorado em Psicologia) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

SOARES, A. M. P. Cabelo importa: os significados do cabelo crespo/cacheado para mulheres negras que passaram pela transição capilar. 2018. Dissertação (Mestrado em Sociologia) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2018.

ZALCBERG, M. De menina a mulher: cenas da elaboração da feminilidade no cinema e na psicanálise. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2019.

Downloads

Publicado

09-12-2024

Edição

Seção

Em pauta